CREPOP

 

Onde está a vida na prevenção ao suicídio?

 

O CREPOP está realizando uma pesquisa sobre a atuação de psicólogas/os na política pública de prevenção da autolesão e do suicídio e posvenção, com o objetivo de subsidiar a elaboração de uma referência técnica para atuação na mesma política. Nesta edição, a EntreLinhas convidou a psicóloga Jéssica Prudente a escrever sobre o tema.

 

Viver, morrer e querer são temas que atravessam o campo da Psicologia em diferentes práticas e abordagens teóricas. Tais questões constituem preocupações que ocupam as angústias dos sujeitos ao longo da história e da cultura de diferentes modos. Desde a modernidade, junto às políticas de individualização, a Psicologia emerge como campo de saber-poder que se ocupa desses temas e vem sofrendo modulações nos entendimentos e práticas voltadas às inquietudes da condição humana no contemporâneo.

Nos últimos anos, campanhas de prevenção no campo da saúde ganharam ênfase elegendo temáticas e ações específicas para diferentes problemas. O “Setembro Amarelo” é uma campanha mundial de prevenção ao suicídio que tem como alvo os indivíduos que apresentam comportamentos considerados de risco, sendo que os manuais e guias de apoio a trabalhadoras/es da saúde e de outras áreas indicam estudos epidemiológicos, índices, prevalências e modos de intervenção de acordo com classificações de risco, mapeando redes de encaminhamentos. Destaca-se que o que se previne é o comportamento suicida.

Nesse sentido, ações de prevenção desse comportamento e o reconhecimento da rede de atenção especializada são fundamentais, entretanto, tais intervenções agem sobre um sofrimento já em curso, delineado sob o signo do suicídio. Nossa categoria profissional tem um importante papel nessas ações, mas existem outros aspectos que precisam ser refletidos e discutidos.

Se tantas pessoas recusam a vida, o que isso diz da vida? Talvez possamos nos ocupar e pensar sobre onde está a vida na prevenção ao suicídio, pois recusar um modo de viver não significa, necessariamente, recusar outros modos de vida possíveis. Que vida estamos produzindo nas relações sociais, nas nossas práticas clínicas, de formação, de supervisão e nas relações com o trabalho? É possível cuidar da existência, e não apenas da vida? Talvez possamos pensar, em meio às estratégias de prevenção ao suicídio, como produzir uma vida que se queira viver.

Jéssica Prudente | CRP 07/19326
Psicóloga (UNISINOS), especialista em Intervenção Psicanalítica na Clínica da Infância e Adolescência (UFRGS), mestra e doutora em Psicologia Social e Institucional (UFRGS). Professora do Curso de Psicologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC).