CREPOP

Abordagem racializada das pesquisas 

 
Mesmo com a ampliação do debate acerca das estruturas racistas que formam a sociedade brasileira, que é 54% negra, ao pensar atuação em saúde, ainda predominam propostas voltadas a um suposto sujeito universal, idealmente branco. Se as relações raciais conquistam algum espaço nas discussões teóricas, no campo prático, o olhar sobre raça e racismo segue aparecendo apenas pontualmente, e não como elemento estruturante das subjetividades e das relações sociais.
 
Sustentado no compromisso ético e político da atuação da Psicologia nas políticas públicas, o Crepop do CRPRS atentou para a urgência de racializar suas ações, compreendendo que, ao nos recusarmos a olhar para a racialidade dos sujeitos, contribuímos para a manutenção de iniquidades. Para transferir esse olhar racializado para a produção das referências técnicas, em 2021, o Centro reestruturou integralmente o roteiro de pesquisa relacionada às políticas de prevenção do suicídio, inserindo questões disparadoras e espaços para relatos descritivos, buscando observar como as racialidades aparecem (ou não) no discurso das/os psicólogas/os sobre sua prática. As entrevistas evidenciaram que as problemáticas estruturais historicamente silenciadas refletem na atuação das/os psicólogas/os, que demonstraram dificuldade para pensar suas ações a partir de um olhar racializado. Ao mesmo tempo, a própria intervenção tensionada pelo roteiro racializado provocou movimentos de reflexão interessantes percebidos ao longo das entrevistas.
 
Embora o Crepop já tenha publicado referências técnicas especificamente sobre relações raciais na atuação da Psicologia, a proposta regional é que esse olhar racializado passe a atravessar a condução de todos os ciclos de pesquisa que fazem parte da construção das referências junto à categoria. A ideia é visibilizar o racismo estrutural denegado pelo mito da democracia racial brasileiro, destacando a necessidade da existência de políticas que reduzam seus efeitos, além de produzir deslocamentos em relação à percepção das/os psicólogas/os sobre como encaram as racialidades em sua prática cotidiana.
 
Em 2022, articulado à Comissão de Relações Étnico-Raciais do CRPRS, o Crepop dá continuidade ao processo de racialização nas pesquisas que investigam a atuação das/os psicólogas/os nas políticas públicas voltadas às pessoas com deficiência e aos serviços-escola de Psicologia. 
 
 
Carla Mariela Carriconde Tomasi | Conselheira Referência do CREPOP
Rafaela Demétrio Hilgert | Assessora Técnica de Políticas Públicas
Thayna Miranda da Silva | Colaboradora
Lara Steigleder Wayne | Estagiária