DICA CULTURAL

“A infância do Brasil”

Jean Von Hohendorff | CRp 07/18256
Conselheiro do CRPRS.

Infância. Crianças. Quando nos deparamos com essas palavras, quais são as imagens que vêm à nossa mente? Qual é o nosso imaginário acerca da infância brasileira e o que é ser e quais são as crianças do nosso país? O Brasil é um país de dimensões continentais e seria ingênuo pensar em apenas uma infância ou uma forma de ser criança. A diversidade de infâncias e de ser criança é acentuada quando se consideram peculiaridades de etnia, raça e nível socioeconômico. Infelizmente, essa diversidade não costuma ser contemplada nos livros sobre desenvolvimento humano e textos sobre infância, que pessoas psicólogas estudam desde a graduação.

A obra “A infância do Brasil” vem para mudar esse cenário. Nela, as pessoas leitoras poderão conhecer a infância brasileira, que começou a ser forjada desde a invasão do território indígena, passando pelo genocídio cultural promovido pelos colonizadores europeus até os dias de hoje, quando, infelizmente, ainda percebemos operar as mesmas lógicas de opressão. O autor, José Aguiar, que é quadrinista, apresenta “A Infância do Brasil” por meio de ilustrações ricas em significado.

Ao final, as pessoas leitoras têm à disposição textos da historiadora Claudia Regina Baukat Silveira Moreira, que aprofundam as narrativas abordadas nas ilustrações das páginas anteriores. Após a leitura de “A Infância do Brasil” é impossível que as imagens que a maioria de nós acessamos quando pensamos em infância e crianças não sejam transformadas. A obra foi finalista do Prêmio Jabuti, em 2018, vencedora dos prêmios LeBlanc e Minuano de Literatura, e do Troféu HQMIX, na categoria Adaptação para Outras Linguagens, mas quem mais ganha com ela é a pessoa leitora. Bons estudos!

 

Entre a literatura e o infantil: uma infância

Luís Henrique da Silva Souza | CRp 07/31246
Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e conselheiro do CRPRS.

Em seu livro “Entre a literatura e o infantil: uma infância”, a autora Betina Hillesheim, professora e pesquisadora da Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC, volta seu olhar para a literatura infantil para assim problematizar questões que a envolvem, percorrendo os discursos que forjam este tipo de literatura, direcionada para crianças e adolescentes. A obra é fruto do seu doutorado em Psicologia e premiado pelo primeiro Concurso Abrapso de Teses, Dissertações e Artigos de Graduação, realizado em 2007.

A autora inicia sua discussão trazendo o debate frente à literatura, sobre a forma como o gênero infantil se insere neste campo e como muitas vezes este tipo de literatura é rebaixada como tendo menor valor frente aos outros gêneros literários, sendo assim considerada uma literatura menor, conceito no qual a autora se apoia na proposição de Deleuze, que ela usa como ferramenta para torcer seu objeto de pesquisa.

Betina também problematiza a função que em nossa sociedade a literatura infantil toma enquanto uma ferramenta pedagógica e de aprendizagem, de modelação do comportamento e de subjetivação das crianças e adolescentes, assim preparando esse futuro adulto para a sociedade. Porém, mais do que isso, a autora nos demonstra o movimento que se retroalimenta, uma vez que a existência de uma literatura infantil só é possível na emergência do conceito de infância e, na medida que ela se atualiza, o gênero também se transforma.

Betina utiliza sua escrita, de forma leve e encantada, para disparar o pensamento, desestabilizando concepções e entendimentos que temos naturalizados, sem enclausurá-los numa verdade absoluta, fazendo com que possamos nos desterritorializar, encontrar devires e linhas de fuga nesse espaço entre a literatura e o infantil.