REPORTAGEM

 

Os Serviços-Escola em Psicologia são organizações que aliam a formação profissional
e a consolidação das competências propostas pelas Diretrizes Curriculares à prestação de
serviços à comunidade. Esses espaços enfrentam desafios como o de tornar público o
conhecimento ali produzido, promover maior articulação com outros cursos de graduação e melhorar a
relação com políticas públicas, como o SUS e o SUAS.

Espaços de formação e 
atendimento  à comunidade


Criados com a Lei n.º 4.119, de 1962 – que regulamentou a profissão de psicóloga/o – os Serviços-Escola em Psicologia devem oferecer condições físicas, materiais, administrativas e pedagógicas para a realização dos estágios obrigatórios dos cursos, prestar serviços à comunidade e propiciar pesquisas nos diversos campos de atuação. 
 
Segundo Denise Balem Yates, psicóloga do Centro Interdisciplinar de Pesquisa e Atenção à Saúde da UFRGS e atual coordenadora do Fórum de Serviços-Escola do Rio Grande do Sul, a maioria das instituições de ensino superior do estado conta com ao menos um Serviço-Escola, que geralmente atua na área de Psicoterapia. Denise lembra que, inicialmente, essas organizações eram chamadas de Clínicas-Escola, identificadas com a função de clínicas de Psicoterapia. “Passaram a ser denominados ‘Serviços-Escola’ a partir do 12º Encontro de Clínicas-Escola do Estado de São Paulo em 2004, justamente para explicitar a multiplicidade de formas de atuação em Psicologia”. Geralmente os serviços oferecidos nesses espaços são voltados a atendimentos grupais, núcleos de orientação profissional e de carreira, priorizando populações em vulnerabilidade e estão vinculados à Psicologia Comunitária ou à Psicologia Jurídica.
 
Denise ressalta que os Serviços-Escolas também vêm desempenhando um importante papel na criação de metodologias inovadoras de atendimento às demandas da sociedade, bem como na produção científica por meio de pesquisas. Um dos principais desafios dos Serviços que compõem atualmente o Fórum é tornar público o conhecimento produzido por eles, ou seja, sistematizar as informações coletadas e descrever as práticas oferecidas de forma que o conhecimento produzido na prática possa ser transmitido para outros públicos e tenha continuidade, não se encerrando no aprendizado de alguns alunos e no atendimento específico oferecido. “São locais de grande riqueza de conhecimento teórico-prático, mas muitas vezes têm dificuldade para divulgar esse conhecimento dentro ou fora do sistema de publicações científicas. Acredito que os docentes, técnicos e gestores que atuam nos Serviços-Escola precisam focar também nesse aspecto, como forma de demonstrar sua utilidade inclusive para áreas acadêmicas mais reconhecidas, como a pesquisa e o ensino”.
 
 

 

Nesse sentido, Denise defende que haja maior articulação entre os cursos de graduação e seus Serviços-Escola. “O exercício da interprofissionalidade nos serviços-escola integrados é um desafio com excelente potencial formativo. Da mesma forma, a implementação de análises das demandas e do contexto psicossocial da comunidade na qual o serviço-escola está inserido pode gerar bons frutos”, acredita.
 
Outra questão apontada por Denise diz respeito ao atendimento gratuito ou de baixo custo a pessoas com baixa renda. Se por um lado trata-se de uma oportunidade de aprendizado para as/os estagiárias/os, por outro, vem gerando extensas listas de espera de pessoas não absorvidas pelo atendimento no SUS. Além disso, o impacto dos cortes à Saúde e à Assistência Social vem levando muitos casos de alta vulnerabilidade para atendimento nos Serviços-Escola, que não estão preparados para essas demandas. “O tipo de relação que pode ser estabelecido entre os Serviços-Escola e o SUS e o SUAS é um importante desafio que está sendo colocado na prática diária das instituições de ensino. Uma possibilidade de relação seria a de troca de tecnologias de intervenção, de ambas as partes - o que já ocorre em algumas instituições, mas está longe de ser a regra”, avalia.
 
A priorização do ensino a distância por algumas instituições e a contratação de técnicos responsáveis com remuneração abaixo da praticada no mercado são outros aspectos que, para Denise, prejudicam a manutenção de serviços de qualidade nesses espaços.
 

Fórum de Serviços-Escola

Criado em outubro de 2017, após o Encontro de Serviços-Escola de Psicologia de Porto Alegre, ocorrido em junho do mesmo ano, o Fórum de Serviços-Escola de Psicologia do Rio Grande do Sul tem maior participação de serviços de Porto Alegre e Região Metropolitana, mas já conta com serviços de instituições públicas e privadas das regiões Centro-Leste, Litoral Norte e Serra Gaúcha. “Gostaríamos de contar com representantes de Serviços-Escola das demais regiões do estado, embora por questões logísticas isso ainda não se fez possível”, afirma Denise Balem Yates.
 
Para este ano, o grupo está organizando o Encontro de Serviços-Escola de Psicologia do Rio Grande do Sul, oportunidade para o compartilhamento de práticas e estratégias utilizadas por alunos e profissionais que atuam em diferentes instituições pelo estado. O evento será nos dias 24 e 25 de maio na PUCRS. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo site eseprs.com.br.
 
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