REPORTAGEM PRINCIPAL


O Conselho Regional de Psicologia da 7ª Região, há 45 anos,
era constituído por um grupo de psicólogas/os que, na época, trabalhava
para organizar a Psicologia como uma profissão regulamentada.
Desde então, a profissão foi ganhando visibilidade, se fortalecendo e se inserindo em diferentes campos. 

CRPRS:
há 45 anos fazendo a diferença
na Psicologia


À esquerda, a imagem ilustra a inauguração da Sede do CRPRS, na Av. Osvaldo Aranha, em 1981. À direita, imagem do auditório na atual Sede do Conselho, na Av. Protásio Alves.

Inicialmente, com abrangência nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, as primeiras gestões do Conselho Regional de Psicologia da 7ª Região reuniam representantes dos três estados. Em 1979, foi constituído o CRP da 8ª Região (CRP PR). 
 
Conselheira nas Gestões de 1977 a 1980 e de 1980 a 1983, Emiliana Maria Simas Cardoso da Silva, pioneira da profissão em Santa Catarina, lembra que, na época, surgiam os primeiros cursos de Psicologia e que, inicialmente, as/os profissionais eram credenciados pelo Ministério do Trabalho e, posteriormente, pelo Ministério da Educação. “Trabalhávamos pela organização legal da profissão no país e para registrar as/os psicólogas/os”, lembra.
 
Responsável pela formação do curso de Psicologia na Universidade Federal de Santa Catarina, Emiliana acredita que a profissão ainda precisa lutar para conservar sua identidade e expandir. “Perdemos terreno, no sentido científico, com a atuação de outras profissões em áreas que deveriam ser exclusivas de psicólogas/os”.
 
Assista ao vídeo documentário – Resgate De 1974 a 1986:
 
 
Gaúchas que residiam em Santa Catarina, Dulce Helena Penna Soares e Néli Telles D’Ajello participaram da Gestão de 1989 a 1992 com o objetivo de fortalecer a Psicologia em Santa Catarina. 


 
 
A economia brasileira passava por período de grande turbulência com uma hiperinflação, dificultando o trabalho de expansão do Conselho. “Salas alugadas e linhas telefônicas foram devolvidas e as vindas a Porto Alegre para as plenárias passaram a ser de ônibus e só eram viabilizadas com o apoio de nossas famílias no Rio Grande do Sul”, lembra Dulce.
 
A ideia de Dulce e Néli era abrir uma setorial em Florianópolis. Durante a Gestão, conseguiram alugar uma sala dividida com outra entidade e contratar uma secretária que dava suporte no atendimento às/os profissionais de Santa Catarina. “Estávamos interessadas em aproximar a categoria ao CRP. Promovíamos reuniões com os psicólogos catarinenses, para discutir os temas que estavam em pauta no Sistema Conselhos. Vivenciávamos o início do que depois seria chamado de Luta Antimanicomial”, recorda Néli. Em 1992 foi publicada a Resolução criando o CRP da 12ª Região (CRP SC). 
 
De volta a uma gestão do CRP em 2000, Néli se deparou com outra realidade, com mais recursos e uma profissão mais organizada. “Antes, não tínhamos Resoluções que normatizassem a prática, somente o Código de Ética não dava conta”. Para Néli, o número de psicólogas/os aumentou, mas a participação nas ações do CRP não acompanhou esse crescimento. “Éramos poucos e mais próximos. Hoje vejo um desinteresse por parte da categoria, profissionais pouco politizados, no sentido de conscientização sobre seu papel social, não exercem uma atuação profissional cidadã”. A inserção de psicólogas/os nas escolas é apontada por Dulce e Néli como algo que ainda precisa avançar. “Essa é uma luta antiga e que evoluiu pouco”, avaliam. 
 
De 1996 a 2001: Confira entrevista com Rejane Pousada na EntreLinhas nº 81.
 
A Gestão PraPsis (2004-2007) dedicou-se a discutir sobre ética, o que balizou a publicação do atual Código. “Buscávamos, além de cumprir a função específica da Comissão, que era julgar a procedência da denúncia e a instauração ou não de um processo ético, discutir sobre o fazer ético”, destaca Bárbara Conte, presidente da Comissão de Ética durante os três anos dessa Gestão.  
 
Temas como elaboração de laudos, dilemas enfrentados pela/o psicóloga/o que atendia em vários lugares e em várias funções, concursos públicos impugnados, e o lugar ético da/o psicóloga/o no chamado depoimento sem dano (hoje, depoimento especial) são citados por Bárbara como os mais presentes nas discussões da COE na época. “Foi em função de um parecer que concedemos sobre a indagação de um agente público da área do direito que elaboramos um laudo questionando a prática do depoimento especial realizado por psicólogo, da forma proposta à época, que o tema foi encaminhado para CFP e abriu-se a discussão sobre esta prática em nível nacional, com todas as consequências técnicas e éticas que ocorreram”.
 
O trabalho de orientação à categoria sempre foi uma característica marcante do CRPRS. “Quando observávamos que havia muitos processos de um mesmo tema, fazíamos uma reunião de esclarecimentos e orientação tanto com os colegas psicólogos como com os entes públicos envolvidos. Este procedimento gerou vários manuais de orientação para psicólogos em suas práticas, bem como a criação de um espaço sistemático de participação nas universidades para discutir sobre ética profissional”, afirma Bárbara. 
 
Os anos 2000 foram marcados por lutas importantes para a profissão e, para Bárbara, o atual desmonte do Sistema Público de Saúde e das condições de ensino nas universidades públicas e privadas reativou a discussão de temas que estavam em evidência naquela época, como a Reforma Psiquiátrica e a política de redução de danos e a ampliação dos espaços de trabalho para a/o psicóloga/o.
 
 
Presidindo a Comissão de Orientação e Fiscalização nessa época (2004 a 2007), Silvana de Oliveira, atual presidente do CRPRS, compara os dois momentos que esteve na Gestão do Conselho. Para ela, o crescimento da categoria tornou o trabalho mais complexo. “As dúvidas que chegavam ao CRP eram mais do campo da Clínica, estavam relacionadas à produção de documentos, à avaliação psicológica, à quebra de sigilo e à interface com o Judiciário. Ainda não tínhamos um volume de trabalhadores nas políticas públicas como temos hoje. Essa foi uma das mudanças mais significativas da profissão nesses últimos 15 anos”. Para Silvana, o trabalho da Psicologia está também mais difundido na sociedade. “Além da inserção das/os psicólogas/os nas políticas públicas, a presença da/o psicóloga/o nas empresas, nas organizações e a popularização na imprensa mudaram o desenho da profissão nesse aspecto”. 
 
Segundo Silvana, a maior aproximação com a categoria foi possível graças à ampliação da estrutura física do Conselho e ao desenvolvimento do trabalho de comunicação. “As mídias sociais permitiram uma aproximação, conseguimos nos apresentar à categoria de forma mais efetiva, divulgar ações, orientar a procurar o Conselho”.
 
Como desafio para as próximas gestões, Silvana cita a necessidade de reunir um grupo de conselheiras/os
que deem conta da diversidade da profissão e que tenham disponibilidade para participar ativamente das ações do Conselho. “Somos poucos pelo volume de trabalho que se tem. É um desafio melhorar a interlocução com categoria, ter uma representatividade ainda maior e, com isso, conseguir potencializar o trabalho das Comissões na produção de referências técnicas de orientação”.
 
Assista ao vídeo com depoimento de Helena Scarparo, que também integrou a gestão do CRPRS de 2004 a 2007.
 
 
Integrante da Gestão PluralPsi (2007-2010), Clarice Moreira da Silva destaca a aproximação com as instituições de ensino superior e com psicólogas/os do interior do estado; a intensa mobilização contra o Ato Médico, em conjunto com outras entidades da área da saúde; a participação nas Conferências de Saúde para o avanço da Luta Antimanicomial; e a discussão sobre o trabalho da Psicologia no Sistema Prisional como temas mais relevantes da Gestão em que fez parte. Especificamente na Comissão de Ética, a Avaliação Psicológica era a área que gerava o maior número de processos, relacionados na maioria das vezes à inadequação na realização de avaliação psicológica e à confecção equivocada de laudos e pareceres. “Eram temas trabalhados de forma cuidadosa com a assessoria jurídica e a assessoria técnica do CRPRS, equipe formada por profissionais de qualidade e embasamento. Discutíamos quantas vezes fossem necessárias até se ter claro o objeto do processo e a compreensão da situação, enquadrando-a dentro do Código de Ética e das resoluções de nossa profissão”.
 
Acesse publicação especial dos 35 anos do CRPRS em crprs.org.br/revista35anos
 
 
Ao longo desses 45 anos, Clarice ressalta o respeito que a profissão adquiriu na sociedade, tendo o reconhecimento técnico por parte de diferentes setores. “Tem-se mais claro os diferentes mercados de atuação do profissional psicólogo, além da Clínica. Com o atual cenário político do país, a profissão está sendo ainda mais exigida em sua posição ética e técnica no trabalho com a saúde”.
 
Atualmente, Clarice acompanha o trabalho do CRPRS pelas redes sociais e participa de alguns eventos. “No ano passado, estive no Encontro Gaúcho da Psicologia, onde pude constatar, com alegria, o trabalho com temas diversos, acolhendo a abrangência e intersecção da Psicologia com o que ocorre em nossa sociedade. Além disso, tenho percebido um maior número de psicólogos nos eventos. Tal adesão é muito satisfatória de se ver e pode ser devido justamente ao maior alcance que as redes sociais geraram, além do trabalho dedicado dos funcionários do CRPRS, de todos os setores desta instituição, que proporcionam a base e a estabilidade para o trabalho dos conselheiros de cada gestão”.
 
 
Neste mesmo período, a Comissão de Orientação e Fiscalização (COF) dedicava-se às/aos profissionais das políticas públicas, especialmente ao tema da avaliação psicológica para a progressão de regime penal. “A Comissão também orientava muitos profissionais com problemas na divulgação de seu trabalho”, lembra Silvio A. Lopes Iensen, presidente da COF de 2007 a 2010, e atual presidente da Comissão de Ética.
 
Para comemorar seus 45 anos, o CRPRS ouviu as histórias daquelas que participaram do crescimento da instituição: suas/seus funcionárias/os. Adriana Burmann, Keli Rossi e Terezinha de Fátima Goularte de Oliveira tiveram suas vidas entrelaçadas com a do Conselho, vivenciaram suas transformações e conheceram cada uma das gestões. Em entrevista para a EntreLinhas, elas lembram da época em que o Conselho contava com apenas cinco funcionários que desempenhavam as mais diversas tarefas. Ao longo desses anos, as mudanças mais sentidas por elas referem-se ao crescimento físico do Conselho, com o aumento do número de psicólogas/os cadastradas/os e de funcionárias/os.
 
 
Assista ao vídeo com depoimento do psicólogo fiscal Lucio Fernando Garcia, funcionário do CRPRS há 23 anos..