OBSERVATÓRIO DE DIREITOS HUMANOS


Dedicamos a 1ª edição do Observatório de Direitos Humanos ao 8 de março,
data de rememoração de conquistas e atualização das lutas das mulheres.
Sua origem se associa à reivindicação de mulheres no hemisfério norte contra
desigualdades sociais, econômicas e políticas que guiaram diversos eventos históricos
que culminaram na oficialização do Dia Internacional da Mulher pela ONU em 1975.

 

Pelo direito à igualdade e à vida
sem violência para todas as mulheres

 

No início do século XX, o voto era proibido para as mulheres na maioria dos países. Ademais, com a desigualdade social acentuada pela Revolução Industrial, as condições de trabalho das mulheres eram ainda piores que as dos homens da classe trabalhadora. Em 1909, 15 mil mulheres marcharam em Nova York contra a jornada laboral de 16h/dia. Em 1910, em meio à crescente organização política das mulheres em fábricas europeias, a 2ª Conferência Internacional das Mulheres Socialistas em Copenhagen aprovou a criação de um Dia Internacional da Mulher, celebrado em 19/03/1911 em alguns países europeus com reivindicações por igualdade de gênero. Por fim, o evento determinante para instituir a data remonta à greve de operárias russas, em protesto contra a fome e a entrada da Rússia da I Guerra Mundial, em 8 de março de 1917 – considerada o pontapé inicial para a Revolução Russa.
 
Esta é uma data de protesto, e não de flores ou enaltecimento do feminino. A romantização esconde a necessidade de enfrentar injustiças que vão além das condições de trabalho e do voto: sobrecarga de trabalho reprodutivo, cultura do estupro, moralização da conduta feminina e naturalização de papéis sociais que objetificam as mulheres são exemplos da histórica opressão das mulheres na sociedade. Isso se agrava ainda mais para mulheres negras, indígenas, quilombolas, pobres, rurais, com deficiência, LBTs 
que também sofrem efeitos das outras inequidades que as marcam socialmente. E a violência doméstica é expressão emblemática da opressão nas relações afetivas e familiares – que nossos ideais sociais muitas vezes legitimam e escondem. Esses ideais também atravessaram a história da Psicologia e naturalizaram concepções de subjetividade pautadas na subalternidade feminina e no privilégio masculino.
 
A violência ameaça a democracia e compromete a integridade psíquica das próximas gerações. Fortalecer políticas públicas de enfrentamento à violência é papel do Estado e da sociedade – e é tarefa da Psicologia desconstruir seu próprio olhar punitivista, normatizador e adaptativo a padrões relativos à maternidade, à família, à classe, a ideais estéticos, raciais e capacitistas que hierarquizam as mulheres e legitimam violências. Devemos promover uma cultura crítica aos problemas sociais e aos retrocessos e incorporar em nossa atuação profissional a promoção do direito à igualdade e à vida sem violência para todas as mulheres.
 
 
CRISTINA SCHWARZ
Conselheira CRPRS
Presidenta da Comissão de Direitos Humanos