RELATO DE EXPERIÊNCIA

Abordagem Social na Linha de Frente
do combate à Covid-19

 

Desde o início da pandemia, as equipes do Serviço de Abordagem Social de Porto Alegre, executados por Organizações da Sociedade Civil (OSC) parceirizadas com a Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC), configuram-se como serviços essenciais. Nossos atendimentos à população em situação de rua e às crianças e adolescentes em situação de trabalho infanto-juvenil seguem ocorrendo, com adaptações nas dinâmicas das equipes, construção de protocolos de higienização e uso de EPIs para profissionais e usuários.
 
A rua não permite isolamento social, ela é por si a expressão da convivência, do trânsito, da troca, do coletivo. É espaço de exposição a riscos, sem acesso aos recursos que minimizam o contágio, como o distanciamento social, o uso de máscaras, álcool e outros meios de higienização. Com isso, nossas equipes encaram o desafio de criar outras possibilidades que ofertem proteção e cuidado em meio à pandemia, visando construir alternativas para a superação das situações de vulnerabilidade e da exposição advinda com a permanência no espaço da rua. 
 
 
Assim, faz-se importante considerarmos que as equipes de Abordagem Social também compõem a linha de frente no combate à Covid-19. As equipes seguem nas ruas, produzindo mecanismos de redução de riscos e danos, ofertando cuidado frente ao caos social, político e de saúde. Os instrumentos de trabalho são nossos corpos, que se colocam à escuta dos sujeitos, construindo as articulações necessárias para garantir o acesso à rede socioassistencial e às políticas públicas e serviços disponíveis.  
 
Composto majoritariamente por pessoas negras – que apresentam importantes fatores de risco frente à Covid-19 (CASSAL & FERNANDES, 2020) - o contexto da rua agrava-se ainda mais. Fortemente marcado pela Necropolítica (MBEMBE, 2016), que define os corpos que devem morrer, vemos a necessidade ainda maior de fortalecer as ações para o cuidado destas populações historicamente atravessadas por questões como racismo, fragilidades no acesso à proteção social, violação de direitos, violência de Estado, rompimento de vínculos familiares, comunitários e sociais e condições de vida precarizadas. 
 
No entanto, para além de medidas temporárias durante a pandemia, nossa tarefa enquanto trabalhadoras/es da Política da Assistência Social está em lutar para a efetivação de políticas públicas que assegurem o direito à vida e à moradia digna. O papel da Psicologia nessa caminhada está em compor essa luta, estando atenta para a escuta, compreensão e intervenção sob os fatores subjetivos e sociais de risco e proteção, promovendo a construção de planos e projetos de vida que produzam rupturas nas situações de vulnerabilidades.

 
 
DINAÊ MARTINS
(CRP 07/21911)
Psicóloga, trabalhadora do Ação Rua/Porto Alegre
 
Referências
CASSAL, Milena. FERNANDES, Talita. A população negra em situação de rua e a Covid-19: vidas negras importam? Tessituras, v.8 s.1 jan-jun 2020. Pelotas/RS.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. N-1 edições, 2018. São Paulo/SP.
 
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