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Notícias

Trabalho e Organizações

11/06/2021

Seminário debate saúde mental e trabalho na pandemia

Nos dias 08, 09 e 10/06, o CRPRS promoveu o seminário “Psicologia, Saúde Mental e Trabalho na Pandemia: Desafios e Perspectivas”, de forma totalmente on-line, a fim de escutar e orientar à categoria acerca da emergência da saúde mental no mundo do trabalho.

Organizada pela Comissão de Psicologia Organizacional e do Trabalho (CPOT), o evento era aberto ao público mediante inscrição prévia e, um dia antes do início da programação, o Conselho já havia registrado mais de 500 solicitações de participação. Durante os três dias de atividade, o seminário contou com a presença de convidadas/os especiais para falar sobre as diferentes perspectivas e realidades que abrangem o tema, proporcionando um espaço de escuta especializada no assunto.

A emergência da saúde mental no trabalho durante a pandemia da Covid-19

No primeiro dia, a mesa “A emergência da saúde mental no trabalho durante a pandemia da Covid-19” trouxe alguns questionamentos sobre a atual situação do país, refletida nas angústias da população. O aumento do desemprego, da desigualdade e da precarização profissional, segundo o convidado João Batista de Oliveira Ferreira (CRP 05/41953), doutor em Psicologia Social e do Trabalho (UnB), têm gerado efeitos muito sérios na saúde mental das pessoas, tanto em situações onde elas já perderam seus empregos como, também, em situações onde elas enfrentam o temor disso acontecer. “Falar do mundo do trabalho na pandemia é falar de pandemia, de vulnerabilidade e da precarização da vida no trabalho. Em 2019, a ONU incluiu o Brasil na lista dos 10 piores países do mundo para a classe trabalhadora, por entender que a Reforma Trabalhista de 2017 impôs um arcabouço jurídico regressivo às/aos trabalhadoras/es, baseando-se na retirada de direitos. A reforma consolidou um quadro de desproteção e intimidação aos sindicatos e, com a chegada da pandemia, essa situação só foi reforçada: nos consultórios clínicos de Psicologia, o que temos visto é um grande número de pessoas com dificuldade de concentração, ansiedade, tristezas, depressões e sobrecargas de trabalho.”, introduziu.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra a Domicílio (PNAD) Covid, 9% da população está trabalhando de forma remota, na pandemia. Por isso, João destacou, também, algumas características do trabalho “home-office” e explicou um novo fenômeno do qual as/os psicólogas/os estão chamando de “Subjetivação de Just-In-Time”. “Algumas microssituações começaram a aparecer, como, por exemplo, perda da convivência com o colega, sobreposição de fronteiras entre vida pessoal e do trabalho (que afeta principalmente as mulheres) e extensão abusiva das jornadas de trabalho. Tudo isso tem um impacto muito grande na saúde mental e vai criando o que chamamos de ‘Subjetivação de Just-In-Time’, onde a existência só se torna reconhecida no momento em que ela está conectada, plugada e submetida a essas situações de precarização.”, explicou.

Outra realidade exposta durante o seminário foi a situação das desigualdades sociais, de raça e de gênero, pois a emergência da saúde mental no mundo do trabalho atinge com muito mais força a população negra, periférica e a de mulheres. “No Brasil, a crise humanitária, sanitária, política e econômica tornou ainda mais visíveis as outras crises que já eram historicamente naturalizadas e, muitas vezes, silenciadas, como, por exemplo, as desigualdades sociais, de raça e gênero. Por isso, esses marcadores são aspectos fundamentais quando avaliamos a exposição da Covid-19 e seus efeitos na saúde mental.”, salientou o psicólogo.

Para a convidada Karine Vanessa Perez (CRP 07/20990), doutora em Psicologia Social e Institucional pela UFRGS e integrante do Projethos COVID (projeto de pesquisa com dados sobre saúde mental dos trabalhadores na pandemia) – Link do formulário do projeto: https://forms.gle/xnE7pCHYHHRBbwMh6 - as pesquisas mostram que há um cansaço extremo entre as/os trabalhadoras/es das mais diversas áreas e há, ainda, uma dificuldade destas/es de conseguir visualizar um futuro melhor. “Acredito que muitas pessoas adoeceram ou tiveram seus quadros agravados nesta situação, mas as instituições desejam trabalhadoras/es que não adoeçam física e emocionalmente. Não somos máquinas!”, defendeu Karine.

Nesse momento do seminário, a convidada Patricia Spindler (CRP 07/9094), mestra em Psicologia Social e Institucional pela UFRGS, destacou o esforço das/os trabalhadoras/es da saúde e daquelas/es que compõem o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) que estão trabalhando incansavelmente, desde o início da pandemia, no front contra a Covid-19. “As equipes dos CRAS, URAS e Centro POP, por exemplo, atuaram frente ao desafio de conseguir trabalhar de forma online e, ao mesmo tempo, de visualizar uma perspectiva para abrir novos caminhos menos solitários: juntaram equipes que não estavam acostumadas a trabalharem juntas e passaram a atuar por escalas no formato presencial e/ou remoto.”, relatou Patricia ao lembrar que o SUAS precisou atender uma demanda muito maior de pessoas em situação de vulnerabilidade, em decorrência da crise do coronavírus. 

“Qual a importância do papel da/o psicóloga/o neste momento?”, questionou Lisiane Alves Touguinha (CRP 07/8465), psicóloga pela PUCRS e pós-graduada em Administração com ênfase em Gestão Estratégica de RH pela UFRGS. “O nosso grande papel é a escuta. Eu, como profissional de RH não posso esquecer que, sim, a empresa tem as suas demandas, mas temos, também, a demanda do trabalhador. E todas essas dores, perdas e angustias já existiam antes, mas, agora, com a realidade da Covid-19, estão sendo afloradas.”

O primeiro dia de evento foi mediado por Andressa Botton (CRP 07/17554), colaboradora da CPOT.

Pandemia da Covid-19 e boas práticas: o desafio da Psicologia Organizacional e do Trabalho

No segundo dia de seminário, em 09/06, o papel da/o psicóloga/o frente à emergência da saúde mental das/os trabalhadoras/os foi discutido com maior profundidade na mesa “Pandemia da Covid-19 e boas práticas: o desafio da Psicologia Organizacional e do Trabalho”. Desta vez, a atividade contou com a participação de mais três convidadas especiais para falar sobre modelos de implementação de políticas de saúde mental em empresas e instituições, durante a pandemia.

A psicóloga Ana Claudia Souza Vazquez (CRP 07/25788), mestre em Saúde Coletiva pela UERJ e doutora em Administração pela UFRGS, apresentou à categoria um projeto estratégico para bem-estar no trabalho, desenvolvido pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), que tem como objetivo realizar ações que contemplem a ideia de serviço saudável com a de serviço seguro. “Desenvolvemos um plano de integridade em saúde mental no trabalho, preservando as outras esferas de vida. A UCSPA criou, também, um mapa de risco para suas/seus servidoras/es, onde é indicado a prontidão que cada uma/um tem para a retomada presencial.”, explicou a convidada ao sugestionar o Departamento de Bem-Estar, Saúde  e Segurança da Universidade como um exemplo de implementação de política de bem-estar na área da Psicologia Organizacional, por meio do acolhimento, da escuta ativa e da geração de evidência.

Durante a fala da convidada Lizandra do Amaral (CRP 07/13815), pós-graduada em Liderança Estratégica de Negócios e Pessoas pela ESPM e líder da área de Saúde Corporativa da Unimed Porto Alegre, foram apontadas algumas ações que empresas e instituições podem tomar em prol da saúde mental de suas/seus colaboradoras/es, como, por exemplo, entender o perfil das/os funcionárias/os  e a situação epidemiológica que eles se encontram, sensibilizar as lideranças e estabelecer uma relação de confiança entre todas/os que compõem a organização, além de promover eventos como a “semana da saúde mental”, com espaços para conversas, lives, meditação e yoga. “Com a pandemia, nós, da Unimed de Porto Alegre, fizemos contato com todas/os as/os nossas/os funcionárias/os, a fim de saber como elas/eles estavam. O objetivo era promover um ambiente de acolhimento e deixar evidente que a empresa estava empática com toda esta situação. Com isso, constatamos que havia muita ansiedade e insegurança entre elas/eles , medo de contrair a doença e de contaminar a família.”, explicou Lizandra.

“A gente sabe que, para uma pessoa dar seu melhor no local de trabalho, ela tem que se sentir em um ambiente facilitador e seguro. Por isso, lançamos o Modelo de Intervenção em Saúde Mental, baseado na realização do diagnóstico, na elaboração do plano de ação e na intervenção de cuidado”, completou.

Francieli Katiuça Teixeira da Cruz Severo (CRP 07/29382), mestre em Psicologia Social e Institucional pela UFRGS e pesquisadora no Núcleo de Estudos e Pesquisa em Saúde e Trabalho da UFRGS, falou sobre sua atuação como psicóloga técnica em Acolhimento Institucional na ABEFI e os desafios de atuação com a pandemia. O trabalho de acolhimento institucional, que oferece um acompanhamento psicossocial de crianças e adolescentes com medida protetiva, está organizando dentro da política do Sistema Único de Assistência Social e é pensado com base na garantia de direitos de crianças e adolescentes. Levando em conta toda essa dinâmica institucional, Franciele destacou que o trabalho se dá de forma muito articulado com a equipe técnica. “Foi preciso pensar no cuidado, na escuta, para tentar entender desafios das/os trabalhadoras/es que atuam no local diante da pandemia. No início, o medo era de contaminar crianças e adolescentes que estavam isolados nos abrigos. Como continuar atendendo essas crianças sem levar risco? O adoecimento de colegas e familiares também afetou a equipe. Além do medo de perder emprego, por ser um trabalho terceirizado”. A convidada também destacou a sobrecarga de trabalho gerada com o aumento de violações durante a pandemia e a preocupação com a institucionalização total, que ocasionava um aumento do sofrimento para as crianças e adolescentes acolhidos. “A realidade nos coloca diante da necessidade de reinventar e dar novo sentido ao nosso trabalho”.

Para a conselheira mediadora do segundo dia do seminário, Fabiane Machado, essas ações, voltadas a um cuidado integral em saúde, precisam ser permanentes. “Eu acredito que a pandemia nos ensina que daqui para frente é essa a linha de cuidado que tem que ser explorada”.

A atividade do dia 09 foi encerrada com o lançamento da cartilha “Temas em Psicologia Organizacional e do Trabalho”, produzida pela Comissão de Psicologia Organizacional e do Trabalho do CRPRS. Clique aqui para saber mais. 

Saúde mental, trabalho e perspectivas para o futuro pós-pandemia

 O terceiro e último dia do evento, em 10/06, foi marcado por reflexões acerca do mundo do trabalho em um contexto pós-pandêmico, na mesa “Saúde mental, trabalho e perspectivas para o futuro pós-pandemia”. Na ocasião, foram convidadas/os a exporem seus pensamentos as/os psicólogas/os Lilian Webber (CRP07/10112), Letiene Ferreira Gazineu da Silva (CRP07/15591) e Daniel Viana Abs da Cruz (CRP07/14006).

Para Lilian Weber, que também é mestre e doutora em Administração com ênfase em Gestão de Pessoas pela UFRGS, a pandemia acelerou algumas mudanças que já vinham acontecendo, lentamente, no âmbito do trabalho. “A realidade da Covid-19 impulsionou, de forma emergencial, os processos de introdução às tecnologias nos espaços organizacionais e, com isso, tivemos que nos adaptar rapidamente”. Ela entrou, ainda, na questão da precarização dos processos trabalhistas, frisando que a emergência da saúde mental no mundo corporativo gerou uma tendência de inseguranças em termos de vínculos empregatícios e um aumento do número de pessoas trabalhando como freelancers.

De acordo com Daniel Viana Abs da Cruz, doutor em Psicologia pela UFRGS, conforme o digital e a pandemia, de modo geral, altera o mundo do trabalho, há, também, uma profunda alteração do ser humano na forma como ele compreende o mundo. 

Segundo a psicóloga Letiene Ferreira Gazineu da Silva, pós-graduada em Liderança de Negócios e Pessoas pela ESPM, a Psicologia Organizacional e do Trabalho precisa atuar na reparação desses danos, entendo que, atualmente, há dois principais dilemas que as/os trabalhadoras/es enfrentam: incertezas para o futuro e o luto por terem tido seus sonhos e planejamentos pessoais interrompidos pela Covid-19.  “Eu escuto muito a frase ‘Quando a pandemia acabar, tudo vai voltar ao normal’, na verdade, não é bem assim. Temos esperança que possamos ter uma vida com menos riscos sanitários, mas, mesmo assim, as coisas não serão como antes, da mesma forma como não foi em um mundo pós Segunda Guerra Mundial.”, instigou a psicóloga.

“Na perspectiva de futuro, eu tento trabalhar com meus pacientes a possibilidade de criar novas alternativas para sonhos e objetivos, a partir da realidade da pandemia.”, concluiu Letiene, na tentativa de elucidar a necessidade de estimular sentimentos de otimismo e a esperança, durante toda esta situação.

A mediação da mesa de encerramento foi feita por Thiele da Costa Müller Castro (CRP 07/13981), colaboradora da CPOT.

Ao final do seminário, a CPOT lançou a campanha “Sempre aqui por você”, apresentou uma animação destacando diferentes campos de atuação da área e a importância do trabalho da/os psicóloga/o nas organizações, principalmente diante dos novos desafios impostos pela pandemia da Covid-19. A campanha, em breve, será lançada no site e redes sociais do CRPRS.

Confira vídeos com os três dias de Seminário na íntegra:

Evento do dia 08/06


Evento do dia 09/06


Evento do dia 10/09



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